quinta-feira, 3 de maio de 2012

ASSASSINATO DE FRANCISCO SÁ CARNEIRO - CONFISSÃO DE FERNANDO FARINHA SIMÕES - Parte 2

Continuação...
"Relativamente ao relato dos factos, gostaria de começar por referir que tenho contactos, desde 1970, em Angola, com um agente da CIA, que é o jornalista e apresentador de televisão Paulo Cardoso (já falecido).
Conheci Paulo Cardoso em Angola com quem trabalhei na TVA - Televisão de Angola na altura.
Em 1975, formei em Portugal, os CODECO com José Esteves, Vasco Montez, Carlos Miranda e Jorge Gago (já falecido).
Esta organização pretendia, defender, em Portugal, se necessário por via de guerrilha, os valores do Mundo Ocidental.
Através de Paulo Cardoso sou apresentado, em 1975, no Hotel Sheraton, em Lisboa, a um agente da CIA, antena, (recolha de informações), chamado Philip Snell.
Falei então durante algum tempo com Philip Snell.
O Paulo Cardoso estava então a viver no Hotel Sheraton.
Passados poucos dias, Philip Snell, diz-me para ir levantar, gratuitamente, um bilhete de avião, de Lisboa para Londres, a uma agência de viagens na Av. De Ceuta, que trabalhava para a embaixada dos EUA.
Fui então a uma reunião em Londres, onde encontrei um amigo antigo, Gary Van Dyk, da África do Sul, que colaborava com a CIA.
Fui então entrevistado pelo chefe da estação da CIA para a Europa, que se chamava John Logan.
Gary Van Dyk, defendeu nessa reunião, a minha entrada para a CIA, dizendo que me conhecia bem de Angola, e que eu trabalhava com eficiência.
Comecei então a trabalhar para a CIA, tendo também para esse efeito pesado o facto de ter anteriormente colaborado com a NISS - National Intelligence Security Service ( Agência Sul Africana de Informações).
Gary Van Dyk era o antena, em Londres, do DONS - Department Operational of National Security (Sul Africana).
Regressando a Lisboa, trabalhei para a Embaixada dos EUA, em Lisboa entre 1975 e 1988, a tempo inteiro.
Entre 1976 e 1977, durante cerca de um ano e meio vivi numa suite no Hotel Sheraton, o que pode ser comprovado, tudo pago pela Embaixada dos EUA.
Conduzia então um carro com matrícula diplomática, um Ford, que estacionava na garagem do Hotel.
Nesta suite viveu também a minha mulher, Elsa, já grávida da minha filha Eliana.
O meu trabalho incluia recolha de informações /contra informações, informações sobre tráfico de armas, de operações de combate ao tráfico de droga, informações sobre terrorismo, recrutamento de informadores, etc.
Estas actividades incluem contactos com serviços secretos de outros países, como a Stassi, a Mossad, e a "Boss" (Sul Africana), depois NISS - National Information Secret Service, depois DONS e actualmete SASS.
Era pago em Portugal, recebendo cerca de USD 5.000 por mês.
Nestas actividades facilita o facto de eu falar seis línguas.
Actuei utilizando vários nomes diferente, com passaportes fornecidos pela Embaixada dos EUA em Lisboa.
Facilitava também o facto de eu falar um dialecto angolano, o kimbundo.
A Embaixada dos EUA tinha também uma casa de recuo na Quinta da Marinha, que me estava entregue, e onde ficavam frequentemente agentes e militares americanos, que passavam por Portugal.
Era a vivenda "Alpendrada".
A partir de 1975, como referi, passei a trabalhar directamente para a CIA.
Contudo a partir de l978, passei a trabalhar como agente encoberto, no chamado "Office of Special Operations".
A que se chamava serviços clandestinos, e que visavam observar um alvo, incluindo perseguir, conhecer e eliminar o alvo, em qualquer país do mundo, excepto nos EUA.
Por pertencermos a este Office, éramos obrigados a assinar uma clausula que se chamava "plausible denial" que significa que se fossemos apanhados nestas operações com documentos de identificação falsos, a situação seria por nossa conta e risco, e a CIA nada teria a ver com a situação.
Nessa circunstância tinhamos o discurso preparado para explicar o que estavamos a fazer, incluindo estarmos preparados para aguentar a tortura.
Trabalhei para o "Office of Special Operations ” até 1989, ano em que saí da CIA.
Para fazer face a estes trabalhos e operações, as minhas contas dos cartões de crédito do VISA, American Express e Dinners Club, tinham, cada uma, um planfond de 10.000 USD, que podiam ser movimentados em caso de necessidade.
Estes cartões eram emitidos no Brasil, em bancos estrangeiros sedeados no Brasil, como o Citibank, o Bank of Boston ou o Bank of America.
Entre 1975 e 1989, portanto durante cerca de 14 anos, gastei com estes cartões cerca de 10 milhões de USD, em operações em diversos paises, nomeadamente pagando a informadores, politicos, militares, homens de negócios, e também traficantes de armas e de drogas, em ligação com a DEA (Drug Enforcement Agency).
Existiram outros valores movimentados à parte, a partir de um saco azul, “em cash”, valores esses postos á disposição pelo chefe da estação da CIA, no local onde as operações eram realizadas.
Este saco azul servia para pagar despesas como viagens, compras necessárias, etc.
Posso referir que a operação de Camarate, que a seguir irei transcrever custou a preços de 1980 entre 750.000 e 1 milhão de USD.
Só o Sr. José António dos Santos Esteves recebeu 200.000 USD.
Estas despesas relacionadas com a operação de Camarate, incluiram os pagamentos a diversas pessoas e participantes, como o Sr. Lee Rodrigues, como seguidamente irei descrever."
Continua...

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