quarta-feira, 30 de junho de 2010

A mão do Governo na PT

Todos temos na memória o que ainda há bem pouco tempo foi afirmado por membros do Governo a propósito do negócio da PT/TVI. Hoje na Assembleia Geral da PT e só depois de conhecida a votação favorável da venda à Telefónica da participação na brasileira Vivo, por expressivos 74% dos direitos de voto, o presidente da Assembleia Geral entendeu aceitar o alegado direito de veto da "golden share" detida pelo Estado português. Adivinham-se tempos difíceis para a PT e uma guerra jurídica com a Telefónica. Além disso, prevejo que o Governo não conseguirá sustentar legalmente tal posição, que além de discriccionária e violadora dos legítimos direitos dos accionistas, terá certamente a oposição das instâncias comunitárias. Mas há uma coisa que fica bem evidente: apesar da PT ser uma sociedade anónima, cotada em bolsa, sujeita a regulamentação específica as decisões importantes são ditadas politicamente. Por isso, não é de estranhar o protagonismo que um inexperiente Rui Pedro Soares assumiu na PT nos últimos anos nem a indignada declaração de voto de Pacheco Pereira na comissão parlamentar de inquérito ao caso PT/TVI.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Para quem não gosta de andar "acarneirado"

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pensamento

"A autoridade nunca foi nem jamais há-de ser boa educadora, por todas as razões e mais ainda pelo perigo permanente de resvalar para o autoritarismo. Não pode ser boa educadora. Só quem ama. Só pelo amor. Só por uma identificação persistente e dolorosa com o próprio educando." Autor: Padre Américo fundador da Casa do Gaiato.

terça-feira, 22 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Vá para fora cá dentro

Desenvolvendo a qualidade de vida dos portugueses e o turismo.

Ministério da Justiça avança com estabelecimento Prisional de Lisboa e Vale do Tejo
O Ministério da Justiça, através do Instituto de Gestão Financeira e de Infra -Estruturas da Justiça, vai proceder à construção do novo Estabelecimento Prisional de Vale do Tejo. O anúncio, realizado em conferência de imprensa há dois anos, foi publicado hoje em Diário da República.

“Esta medida pretende localizar na freguesia de Fazendas de Almeirim, no concelho de Almeirim, um estabelecimento prisional moderno, com capacidade de resposta global e integrada aos novos desafios que se colocam no âmbito da execução de penas e medidas privativas da liberdade”, lê-se na Resolução do Conselho de Ministros n.º 45/2010.

O Estabelecimento Prisional de Lisboa e Vale do Tejo, estimado em 120 milhões de euros, terá capacidade para acolher uma população de entre 800 a 900 reclusos e de 300 a 400 funcionários, entre guardas e administrativos, avançava, há dois anos, Manuel Bastos Martins, presidente da Junta de Freguesia de Fazendas de Almeirim.

A obra vai ser construída numa parcela da Herdade dos Gagos, propriedade da Junta de Freguesia de Fazendas de Almeirim com perto de 570 hectares, localizada junto às povoações de Paço dos Negros e Marianos.
"in BPIonline".

Desconfiança entre os bancos persiste

"As taxas Euribor têm subido na generalidade dos prazos desde Abril, a reflectir a tensão que se vive no mercado de dívida europeu. A incerteza quanto à exposição dos bancos à dívida que incorre em risco de incumprimento ou de reestruturação está a deixar os bancos reticentes em financiarem-se uns aos outros, impulsionando as taxas que eles cobram para se financiarem mutuamente." in Bpi online de hoje. Quando os bancos desconfiam uns dos outros... Eles lá saberão porquê.

Camões, Eça de Queirós, José Régio... Portugal terá emenda?

Soneto de José Régio
Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno sacrifício
De trinta contos só! por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO

Soneto escrito em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pedradas no charco

Têm sido poucos aqueles que ao longo dos anos assumem as suas convicções e têm a coragem de criticar o que entendem está mal no nosso País, enfrentando o status quo vigente. Medina Carreira tem sido um raro exemplo de lucidez e coragem. Outros vão dando expressão ao seu descontentamento e desencanto. Entre tantos outros, relembro Ana Gomes, Marinho Pinto, Marcelo Rebelo de Sousa, Manuel Alegre, Pacheco Pereira, João Cravinho e José Maria Martins. Hoje, Pacheco Pereira assumiu sozinho na Comissão Parlamentar de Inquérito no caso PT/TVI, uma declaração de voto contundente relativamente ao Primeiro Ministro e onde conclui: "O primeiro-ministro mentiu". Recentemente, o mediático advogado José Maria Martins foi demolidor com o Deputado Ricardo Rodrigues. Aqui ficam os links:
http://ww2.publico.pt/Pol%C3%ADtica/pacheco-pereira-conclui-o-primeiroministro-mentiu_1442509
http://jose-maria-martins.blogspot.com/2010/03/portugal-um-pais-cheio-de-tiranetes-de.html

A nomeação de Mário Lino e a evocação de Eça de Queirós

Não fora o falecimento de José Saramago e provavelmente a notícia do dia (o relatório da Comissão de Inquérito sobre a TVI nesta fase já é entretenimento) seria a nomeação do ex-Ministro das Obras Públicas, o Eng.º Civil Mário Lino, para presidente do conselho fiscal das companhias de seguros do grupo Caixa Geral de Depósitos, que era ocupado pelo falecido Saldanha Sanches. A notícia pode ser lida na íntegra no Jornal de Negócios em http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=430805.
Impávido e sereno, o País mergulhado em profundíssima crise, fede numa podridão que alastra. Veio-me então à memória, um texto escrito por Eça de Queirós em 1871 e que transcrevo:

"Portugal está perdido. O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada. Os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte, o país está perdido."

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sector bancário europeu em graves dificuldades!

"De acordo com o divulgado pelo Jornal de Negócios, José González-Paramo, membro da Comissão Executiva BCE, referiu hoje que o sector bancário da Zona Euro irá defrontar-se com enormes necessidades de financiamento nos próximos anos. O mesmo terá revelado que os 20 maiores grupos bancários da Zona Euro têm cerca de 800 mil milhões de euros de dívida de longo prazo que tem de ser refinanciada entre Maio de 2010 e o final de 2012." in Millennium investment banking

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ainda o défice português (o real)...

"A CP Carga, uma sociedade anónima do grupo CP criada em Agosto do ano passado, chegou ao fim de 2009, após cinco meses de actividade, com 14 milhões de euros de prejuízo. Actualmente, a empresa já consumiu os seus capitais próprios, pois os resultados líquidos negativos já ultrapassam os cinco milhões de capital social mais os 15 milhões de prestações acessórias com que iniciou a sua actividade. "
In o "Público" de hoje. Para ler a notícia completa: http://economia.publico.pt/Noticia/cp-carga-ja-esta-em-falencia-tecnica_1441756;

A fragilidade da economia portuguesa (Bartoon in Público)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Défice 9,4%? O verdadeiro monstro é bem maior...

Metro do Porto. Situação financeira "insustentável"

02.06.2010 - Informação in "Net Centro"


Tribunal de Contas arrasa contas da empresa e aponta o dedo ao Estado, que não cumpre as indemnizações devidas


A situação financeira da Metro do Porto (MP) é calamitosa, mas o Estado tem muitas culpas no cartório. Segundo a auditoria do Tribunal de Contas (TC), ontem divulgado, o Estado tem atribuído à empresa indemnizações compensatórias tardiamente e muito aquém do necessário para fazer frente aos défices de exploração.

Os tarifários praticados pelo MP, balizados pelo Estado, são insuficientes para cobrir os custos de funcionamento do metro ligeiro, daí resultando défices anuais de exploração que não são compensados pelas indemnizações atribuídas. Isto obriga a empresa a recorrer de forma sistemática ao endividamento para fazer frente à operação. Em 2007, as indemnizações compensatórias do Estado ao Metro do Porto foram de 10,7 milhões de euros, o valor mais alto de sempre, e só cobriram 11,2% do défice operacional do ano. Consequentemente, a exploração do sistema tem tido resultados operacionais cada vez mais negativos, com o défice operacional acumulado entre 2003 e 2007 a chegar a 243,4 milhões de euros.

Insustentável Para o TC, a Metro do Porto apresenta "uma preocupante situação deficitária", constituindo-se como empresa "descapitalizada que regista um crescimento exacerbado da dívida". Por este caminho, diz o TC, a situação económica e financeira pode tornar-se "insustentável". O facto de a construção e o funcionamento do metro assentarem sobretudo no endividamento é uma das explicações propostas pelo TC, para quem o recurso à dívida "deve ser contido dentro de limites razoáveis e comportáveis" para não pôr em causa "os parâmetros de qualidade" do serviço. O TC revela que entre 2003 e 2007 a Metro do Porto tinha acumulado resultados líquidos negativos de 402,7 milhões. Excluindo prestações relativas a subsídios ao investimento, em 2007 a empresa "estava em falência técnica, consequência da perda total do capital próprio - que era superior a 401 milhões. A conclusão do TC é clara: em 2007 a Metro do Porto "já havia perdido o seu capital social mais de 80 vezes".

Segundo a auditoria, "a empresa, com a anuência dos accionistas, contabilizou incorrectamente subsídios ao investimento, o que empolou o capital próprio, mantendo-o artificialmente positivo até 2007". O passivo remunerado da MP totalizava em 2007 1,6 mil milhões de euros, 1,2 mil milhões dos quais respeitantes a endividamento bancário de médio e longo prazo - o que levou a que os custos com o financiamento chegassem a 217,6 milhões.

Subconcessões Ontem, o presidente da Metro do Porto adiantou que terão de ser tomadas decisões para recuperar a empresa, dizendo, no entanto, não estar em condições de divulgar propostas. No dia em que foi à Câmara do Porto apresentar a segunda fase das obras (que inclui ligações a Vila d'Este, em Gaia, e a S. Mamede de Infesta, em Matosinhos, a linha do Campo Alegre e Valbom, em Gondomar), Ricardo Fonseca admitiu que a subconcessão destas linhas é um dos caminhos para conter o endividamento. Apesar da crise e dos cortes que o governo tem promovido, "não temos qualquer sinal de alteração relativamente ao calendário de execução da segunda fase do metro e continuamos a trabalhar para lançarmos o concurso logo que haja condições", avança Ricardo Fonseca, admitindo que isso possa acontecer ainda este ano.

Superar a adversidade. Notável e comovente!