quinta-feira, 7 de abril de 2011

Os donos da tabuada

Para o mais admirado dos reis portugueses, D. João II, a matemática era uma arma da governação.
Para José Sócrates ela está ao serviço da retórica. Tudo divide estes dois homens e, claro, tudo separa o Portugal que legam. Sócrates julga que é, ainda, o dono da tabuada. Erro: se ele é genial nas contas de sumir, há quem some os seus erros. O Governo bateu com a cabeça na realidade e ainda não acredita que o País tem uma dor de cabeça. O dinheiro não nasce nas caixas ATM, ao contrário do que Sócrates acreditava. Evaporou-se e só regressará nos próximos anos para pagar a irresponsabilidade dos últimos anos e a teimosia suicida dos últimos meses. A ajuda externa já existia, disfarçada, através do BCE. Agora vai ser às claras. O que aí vem é uma mistura explosiva de Fada Madrinha e de Bruxa Má. Ao contrário do que julgava Sócrates os números substituíram as palavras. A poesia é feita de contas de subtrair e não de somar. Os antigos homens sem rosto têm agora uma face. Mas tratarão os portugueses como devedores e não como consumidores. A classe política deixou, no seu todo, de ser inocente. Está refém, a partir de agora, de uma gestão que não é a sua. Mas foi ela, com a sua incompetência, que levou Portugal para as portas do purgatório. Ao contrário do que julgava Sócrates, não vai haver uma muralha de aço a cantar "força, força, companheiro José!" para evitar a humilhação. A caixa de Pandora foi aberta pela classe política, mais interessada em afagar o seu umbigo. Dela sairão os pesadelos que duas décadas de consumo tinham disfarçado. Portugal não aprende que a história se repete como tragédia.
In Jornal de Negócios

Sem comentários:

Enviar um comentário