segunda-feira, 15 de junho de 2009

Chega de retórica. Dê-se o exemplo.

No passado domingo realizaram-se eleições para o Parlamento Europeu. Como se receava, a abstenção subiu, mas o mais relevante destas eleições foi a profunda mudança no sentido do voto. O Partido Socialista perdeu em termos absolutos cerca de 565.000 votos, o PPD/PSD sozinho consegue quase os mesmos votos que em 2004 quando fez coligação com o CDS-PP e que agora contrariamente ao vaticinado desaparecimento, alcança próximo dos 300.000 votos. O PCP-PEV vê crescer o seu eleitorado em mais de 70.000 votos e o BE alcança o surpreendente (ou talvez não) terceiro lugar das preferências nacionais dos eleitores com quase 382.000 votos. Acresce referir que o recentemente criado Movimento Esperança Portugal obteve perto de 53.000 votos e os votos brancos quase duplicaram situando-se sensivelmente nos 165.000 votos.
O eleitorado do “bloco central” parece ter-se estilhaçado a partir do PS pois todos os outros partidos de maior dimensão, apesar da abstenção, tiveram acréscimo de votos em termos absolutos. Há ainda o protesto silencioso de quem não se revê no espectro político e vota em branco. O que refiro é igualmente válido para o Concelho de Ovar onde o PS que não perdia eleições há longos anos, foi humilhado. É preocupante o desinteresse crescente dos portugueses pela actividade política mas que reflecte a desilusão que se instalou. O Senhor Presidente da República no seu discurso nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas alertou para os perigos da abstenção e referiu que o alheamento não é adequado para se enfrentar os desafios e as dificuldades. Aos políticos apelou à reflexão sobre a abstenção e à forma como actuam no desempenho das suas funções. Considerou fundamental a credibilidade dos agentes políticos e apelou ao empenhamento responsável e solidário de cada um dos cidadãos.

Uma outra intervenção marcante pela profundidade do seu conteúdo foi a de António Barreto e não resisto a aqui deixar os parágrafos finais:

"Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo "ethos" deveria ser o de servir.

Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar "sinais de esperança" ou "mensagens de confiança". Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.

Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.
Em momentos de crise económica, de abaixamento dos critérios morais no exercício de funções empresariais ou políticas, o bom exemplo pode ser a chave, não para as soluções milagrosas, mas para o esforço de recuperação do país."

De facto os portugueses estão fartos de retórica. Dê-se o exemplo e a esperança renascerá.

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