sábado, 5 de maio de 2012

ASSASSINATO DE FRANCISCO SÁ CARNEIRO - CONFISSÃO DE FERNANDO FARINHA SIMÕES - Parte 8 (última)

Continuação...

"Estou na prisão com o Victor Pereira, que aí também estava preso.
Sei, em 1986, que estavam a preparar para me eliminar na prisão, pelo que peço à minha mulher Elza, para ir falar, logo que possível com Frank Carlucci.
Em consequência disso recebo na prisão a visita de um agente da CIA, chamado Carlston, juntamente com outro americano.
Estes, depois de terem corrompido a direcção da prisão, incluindo o director, sub-director e chefe da guarda, bem como um elemento que se reformou muito recentemente, da Direcção Geral dos serviços Prisionais, chamada Maria José de Matos, conseguem a minha fuga da prisão.
Contribui ainda para esta minha fuga, mediante o recebimento de uma verba elevada, paga pelos referidos agentes americanos esta directora-adjunta da Direcção Geral dos Serviços Prisionais.
Estes agentes americanos obtêm depois um helicóptero, que me transporta para a Lousã, onde fico cerca de 20 dias.
Vou depois para Madrid, com a ajuda dos americanos, e depois daí para o Brasil.
As despesas com a minha fuga da prisão custaram € 25.000 Euros, o que na época era uma quantia elevada.
Só mais tarde no Brasil, depois de 1986, é que referi a José Esteves que sabia que Sá Carneiro ia no avião, contando-lhe a história toda.
José esteves, responde então, que nesse caso, tínhamos corrido um grande risco.
Eu tranquilizei-o, referindo que sempre o apoiei e protegi neste atentado.
Dei-lhe apoio no Brasil no que pude.
Assegurei-lhe também o transporte para o Brasil, obtendo-lhe um passaporte no Governo Civil de Lisboa, entreguei-lhe 750 contos que me foram dados para esse efeito pela embaixada dos EUA, em Lisboa, e arranjei-lhe o bilhete de avião de Madrid para o Rio de Janeiro .
Na viagem de Lisboa para Madrid, José Esteves foi levado por Victor Moura, um amigo comum.
No Rio de Janeiro ajudei-o a montar uma loja, numa roulote.
Como trabalhava ainda para a embaixada dos EUA, em Lisboa, estas despesas foram suportadas pela Embaixada.
Ficou no Brasil cerca de dois anos.
Eu, contudo andava constantemente em viagem.
José Esteves recebe depois um telefonema de Francisco Pessoa de Portugal, onde Francisco Pessoa o aconselha a voltar a Portugal, e a pedir protecção, a troco de ir depor na Comissão de Inquerito Parlamentar sobre Camarate.
Esse telefonema foi gravado, mas José Esteves nunca chegou a obter uma protecção formal.
Telefono a Frank Carlucci, em 1987, pedindo-lhe para falar com ele pessoalmente.
Ele aceita, pelo que viajo do Brasil, via Miami, para Washington.
Pergunto-lhe então, em face do que se tinha falado de Camarate, qual seria a minha situação, se corria perigo por causa de Camarate, e se continuarei, ou não a trabalhar para a CIA.
Frank Carlucci responde-me que sim, que continuarei a trabalhar para a CIA, tendo efectivamente continuado a ser pago pela CIA até 1989.
Frank Carlucci confirma nessa reunião que puderam contar com a colaboração de Penaguião na operação de Camarate, e que ele, Frank Carlucci, esteve a par dessa participação.
Em 1994, foi-me novamente montada uma armadilha em Portugal, por agentes da DEA que não gostavam de mim, por causa da referida prisão de agentes seus, denunciados por mim.
Nesta armadilha participam também três agentes da DCITE - Portuguesa, os hoje Inspectores Tomé, Sintra e Teófilo Santiago.
Depois desta detenção, recebo a visita na prisão de Caxias de dois procuradores do Ministério Público, um deles, se não estou em erro, chamado Femando Ventura, enviados por Cunha Rodrigues, então Procurador Geral da República.
Estes procuradores referem-me que me podem ajudar no processo de droga de que sou acusado, desde que eu me mantenha calado sobre o caso Camarate.
Por ser verdade. e por entender que chegou o momento de contar todo o meu envolvimento na operação de Camarate, em 4 de Dezembro de 1980, decidi realizar a presente Declaração, por livre vontade.
Não podendo já alterar a minha participação nesta operação, que na altura estava longe de poder imaginar as trágicas consequências que teria para os familiares das vítimas e para o País, pude agora, ao menos, contar toda a verdade, para que fique para a História, e para que nomeadamente os portugueses possam dela ter pleno conhecimento.
Não quero, por ultimo, deixar de agradecer à minha mãe, à minha mulher Elza Simões, que ao longo destes mais de 35 anos, tanto nos bons como nos maus monmentos, sempre esteve a meu lado, suportando de forma extraordinária, todas as dificuldades, ausências, e faltas de didicaçâo à familia que a minha profissão impliava.
Só uma grande mulher e um grande amor a mim tornaram possível este comportamento.
Quero também agradecer à minha filha Eliana, que sempre soube aceitar as consequêncais que para si representavam a minha vida profissional, nunca tendo deixado de ser carinhosa comigo.
Finalmente quero agradecer à minha mãe que, ao longo de toda a minha vida me acarinhou e encorajou, apesar de nem sempre concordar com as minhas opções de vida.
A natureza da sua ajuda e apoio, tiveram para mim uma importância excepcional, sem, as quais não teria conseguido prosseguir, em muitos momentos da minha vida.
Posso assim afirmar que tive sempre o apoio de uma família excepcional, que foi para mim decisiva nos bons e maus momentos da minha vida.
Lisboa, 26 de Março de 2012
Fernando Farinha Simões
B.I. n.º 7540306"

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