quinta-feira, 3 de maio de 2012

ASSASSINATO DE FRANCISCO SÁ CARNEIRO - CONFISSÃO DE FERNANDO FARINHA SIMÕES - Parte 4

Continuação...
"Passados alguns dias, recebo um telefonema do Major Canto e Castro (pertencente ao conselho da revolução), que eu já conhecia de Angola, pedindo para eu me encontrar com ele no Hotel Altis.
Nessa reunião está também Frank Sturgies, e fala-se pela primeira vez em "atentado", sem se referirem ainda quem é o alvo.
Referem que contam comigo para esta operação.
O Major Canto e Castro diz que é preciso recrutar alguém capaz de realizar esta operação.
Tenho depois uma segunda reunião no Hotel Altis com Frank Sturgies e Philip Snell, onde Frank Sturgies me encarrega de preparar e arranjar alguns operacionais para uma possível operação dentro de pouco tempo, possívelmente dentro de 2 ou 3 meses.
Perguntam-me se já recrutei a pessoa certa para realizar este atentado, e se eu conheço algum perito na fabricação de bombas e em armas de fogo.
Respondo que em Espanha arranjaria alguém da ETA para vir cá fazer o atentado, se tal fosse necessário.
Quem paga a operação e a preparação do atentado é a CIA e o Major Canto e Castro.
Canto e Castro colabora na altura com os serviços Secretos Franceses, para onde entrou através do sogro na época.
O sogro era de nacionalidade Belga, que trabalhava para a SDEC, os serviços de inteligência franceses, em 1979 e 1980.
Canto e Castro casou com uma das suas filhas, quando estava em Luanda, em Angola, ao serviço da Força Aérea Portuguesa.
Em Luanda, Canto e Castro vivia perto de mim.
Tendo que organizar esta operação, falo então com José Esteves e mais tarde com Lee Rodrigues (que na altura ainda não conhecia).
O elo de ligação de Lee Rodrigues em Lisboa era Evo Fernandes, que estava ligado à resistância moçambicana, a Renamo.
Falo nessa altura também com duas pessoas ligadas à ETA militar, para caso do atentado ser realizado através de armas de fogo.
Depois, noutro jantar em casa de Frank Carlucci, na Lapa, na mansarda, no último andar, onde jantamos os dois sozinhos, Frank Carlucci diz abertamente e pela primeira vez, o que eu tinha de fazer, qual era a operação em curso e que esta visava Adelino Amaro da Costa, que estava a dificultar o transporte e venda de armas a partir de Portugal ou que passavam em Portugal, e que havia luz verde dada por Henry Kissinger e Oliver North.
Cumprimento ambos, referindo que sou "o homem deles em Lisboa".
Três semanas antes dos atentado, Canto e Castro e Frank Sturgies, referem pela primeira vez, que o alvo do atentado é Adelino Amaro da Costa.
O Major Canto e Castro afirma que irá viajar para Londres.
Frank Sturgies pede-me que obtenha um cartão de acesso ao aeroporto para um tal Lee Rodrigues, que é referido como sendo a pessoa que levará e colocará a bomba no avião.
Recebo depois um telefonema de Canto e Castro, referindo que está em Londres e para eu ir ter lá com ele.
Refere-me que o meu bilhete está numa agência de viagens situada na Av. da Republica , junto à pastelaria Ceuta.
Chegado a Londres fico no Hotel Grosvenor, ao pé de Victoria Station.
Canto e Castro vai buscar-me e leva-me a uma casa perto do Hotel, onde me mostra pela primeira vez, o material, incluindo explosivos, que servirão para confeccionar a "bomba" nesta operação.
Essa casa em Londres, era ao mesmo tempo residência e consultório de um dentista indiano, amigo de Canto e Castro, Canto e Castro refere-me que esse material será levado para Portugal pela sua companheira Juanita Valderrama.
O Major Canto e Castro pede-me então que vá ao Hotel Altis recolher o material.
Vou então ao Hotel acompanhado de José esteves, e recebemos uma mala e uma carta da senhora Juanita, José Esteves prepara então uma bomba destinada a um avião, com esses materiais, com a ajuda de Carlos Miranda.
O Major Canto e Castro volta depois de Londres, encontra-se comigo, e digo-lhe que a bomba está montada.
Lee Rodrigues é-me apresentado pelo Major Canto e Castro.
Alguns dias depois Lee Rodrigues telefona-me e encontramo-nos para jantar no restaurante Galeto, junto ao Saldanha, juntamente com Canto e Castro, onde aparece também Evo Fernandes, que era o contacto de Lee Rodrigues em Lisboa.
Fora Evo Fernandes que apresentara Lee Rodrigues a Canto e Castro.
Lee Rodrigues era moçambicano e tinha ligações à Renamo.
Nesse jantar alinham-se pormenores sobre o atentado.
Canto e Castro refere contudo nesse jantar que o atentado será realizado em Angola.
Perante esta afirmação, pergunto se ele está a falar a sério ou a brincar, e se me acha com “cara de palhaço"- fazendo intenção de me levantar.
Refiro que, através de Frank Carlucci, já estava a par de tudo.
Lee Rodrigues pede calma, referindo depois Canto e Castro que desconhecia que eu já estava a par de tudo, mas que sendo assim nada mais havia a esconder.
Possivelmente em Novembro, é-me solicitado por Philip Snell que participe numa reunião em Cascais, num iate junto á antiga marina (na altura não existia a actual marina).
Vou e levo comigo José Esteves.
Essa reunião tem lugar entre as 20 e as 23 horas, nela participando Philips Snell, Oliver North, Frank Sturgies, Sydral e Lee Rodrigues e mais cerca de 2 ou 3 estrangeiros, que julgo serem americanos.
Nesta reunião é referido que há que preparar com cuidado a operação que será para breve, e falam-se de pormenores a ter em atenção.
É referido também os cuidados que devem ser realizados depois da operação, e o que fazer se algo correr mal.
A língua utilizada na reunião é o inglês.
José Esteves recebeu então USD 200.000 pelo seu futuro trabalho.
Eu não recebi nada pois já era pago normalmente pela CIA.
Eu nessa altura recebia da CIA o equivalente a cinco mil US Dólares, dispondo também de dois cartões de crédito Diner's Club e Visa Gold, ambos com plafonds de 10.000 US Dólares.
ee Rodrigues pede-me então que arranje um cartão para José Esteves entrar no aeroporto.
Para este efeito, obtenho um cartão forjado, na Mouraria, em Lisboa, numa tipografia que hoje já não existe.
Lee Rodrigues diz-me também que irá obter uma farda de piloto numa loja ao pé do Coliseu, na Rua das Portas de Santo Antão.
A meu pedido, João Pedro Dias, que era carteirista, arranja também um cartão para Lee Rodrigues.
Este cartão foi obtido por João Pedro Dias, roubando o cartão de Miguel Wahnon, que era funcionário da TAP.
Apenas foi necessário mudar-se a fotografia desse cartão, colocando a fotografia de Lee Rodrigues.
José Esteves prepara então na sua casa no Cacém, um engenho para o atentado.
Conta com a colaboração de outro operacional chamado Carlos Miranda, especialista em explosivos, que é recrutado por mim, e que eu já conhecia de Angola, quando Carlos Miranda era comandante da FNLA e depois CODECO em Portugal.
José Esteves foi também um dos principais comandantes da FNLA, indo muitas vezes a Kinshasa.
Depois do artefacto estar pronto, vou novamente a Paris.
No Hotel Ritz, à tarde, tenho um encontro com Oliver North, o cor. Wilkison e Philip Snell, onde se refere que o alvo a abater era Adelino Amaro da Costa, Ministro da Defesa."
Continua...

2 comentários:

  1. Estimado David Almeida,

    Com o devido respeito e salvaguardadas as distâncias, nestes últimos posts, o seu blog parece uma telenovela!

    As transcrições e/ou reproduções (parciais ou não)e a sobreposição de posts infindáveis sobre o mesmo tema...parecem-me mais do mesmo que, é igual a nada.

    O que pudesse ser feito atempadamente, não o foi ou, se o foi, não o foi da melhor maneira.
    Os advogados jogaram e souberam-no fazer, bem feito, acabou!

    No que respeita ao aspecto legal, julgo nada haver a fazer, ponto final.

    No que respeita ao mito que se criou, acho ab surdo; mais um James Dean; Sá Carneiro, e já agora, aquele miúdo que cantava e se "espalhou" num Mercedes reconstruído após destruição quase total...

    Poderiam ter sido isto e aquilo, poderiam ter sido diferentes, poderiam ter sido os melhores e os maiores,poderiam ter sido Quase-Deuses mas... não foram!

    Criar mitos é fácil e contenta muita gente mas, é perigoso. Por isso o corpo de Jesus Cristo desapareceu (dizem que resscuscitou e subiu aos céus...)o corpo do Saddam Hussein foi deitado ao mar (dizem eles...) e o Jim Morrisson terá uma campa, bem como a Marilyn e aquele que faleceu com côr diferente daquela com qua nasceu.

    O aeroporto do Porto, é Pedras Rubras, sempre o foi. A ponte sobre o Tejo não é 25 de Abril!

    Por muito que me custe dizer, D. Sebastião não regressará num destes actuais nevoeiros para corrigir (peço desculpa) a MERDA toda que Passos Coelho está a fazer e que durante 38 anos todos os outros incompetentes antecessores fizeram.

    Sá Carneiro morreu, como morreu o meu pai, outros meus familiares e familiares de muitos outros Portugueses!

    Se o meu Pai não tivesse morrido, eu poderia ter tido e ter hoje, mais irmãos...
    ...Mas não tenho, o meu Pai morreu!

    Sá Carneiro morreu!

    Só fez aquilo que fez, nada mais.


    Desculpem todos os que esperam por ele e esperavam que algo mais fizesse por nós. (seja ele Sá Carneiro ou D. Sebastião).


    Diz-se que Friedrich Nietzsche afirmou e divulgou a morte de Deus mas, quando Nietzsche morreu, alguém terá escrito uma espécie de graffiti numa qualquer (mas importante e visível parede) que Nietzsche morrera, assinando como ...
    ...Deus!

    Sá Carneiro Morreu!

    Felizmente temos (ainda) herois vivos que fizeram o que de bem feito se lhes reconhece. Felizmente temos ainda vivas, pessoas que fizeram algo e muito por nós.

    Felizmente ainda estão vivos Mário Soares e Ramalho Eanes (ambos Doutores, Eanes também General), reconheça-se publicamente a cada um, aquilo que de bem fez em prole dos outros!

    Sá Carneiro fez o quê? Desculpem a continuação de "mais do mesmo", de mais...nada a acrescentar......Não digo, afinal todos sabem que é mais um mito, mais alguém que poderia ter feito isto e aquilo, mas não fez, MORREU! poderia ter feito...

    Aeroporto quê?
    Porquê?
    Fundação quê?
    Com o património de quem?

    Camoesas, 04 Maio 2012

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  2. Estimado Carlos Camoesas,
    Correram rios de tinta sobre Camarate e gastou-se(gastaram-nos) rios de dinheiro em investigações, peritagens e comissões de inquèrito. Sempre inconclusivas. Juridicamente prescreveu e por isso só agora aparece a confissão. A carta é muito recente. Muito extensa o que é contrária a este canal de comunicação. Pareceu-me muito importante do ponto de vista histórico (e não por qualquer tipo de messianismo atribuido a Sá Carneiro - ainda me lembro dos escritos murais da época), até por tudo o que sendo acessório a Camarate, é muito relevante do ponto de vista da compreensão do funcionamento de muitas organizações. É essa a razão de transcrever na íntegra tão longa carta, correndo o risco do novelismo referido, ou da mesma se tornar fastidiosa. Propositadamente não intercalo outros posts até final da transcrição. Entretanto, soube que vários partidos equacionam aprovar uma nova Comissão de Inquérito ao caso Camarate.
    David Almeida

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