sexta-feira, 4 de maio de 2012

ASSASSINATO DE FRANCISCO SÁ CARNEIRO - CONFISSÃO DE FERNANDO FARINHA SIMÕES - Parte 6

Continuação...

"Telefona então para Lencastre Bernardo, que tinha grandes ligações à PJ e à PJ Militar, e uma Ligação ao General Eanes, Lencastre Bernardo tem também ligações a Canto e Castro, Pezarat Correia, Charais, ao empresário Zoio a José António Avelar que era ex-braço direito de Canto e Castro.
José Esteves telefona-lhe, e pede para se encontrar com ele.
Este aceita, pelo que, pelas 23 horas, José Esteves, eu, e a minha mulher Elza, dirigimo-nos para a Rua GomesFreire, na PJ, para falar com ele.
Esteves sobe para falar com Lencastre Bernardo que lhe tinha dito que não se preocupasse, pois nada lhe sucederia.
Passámos contudo por casa de José Esteves pois este temia que aí houvesse já um conjunto de polícias à sua procura, devido a considerarem que ele estava associado à queda do avião em camarate.
José Esteves ficou assim aliviado por verificar que não existia aparato policial à porta de sua casa.
A quem manifestei o meu desconhecimento e ter ficado chocado por ter sabido, depois de o avião ter caído, que acompanhantes e familiares do Primeiro Ministro e do Ministro da Defesa também tinham ido no Avião.
Frank Carlucci respondeu-me que compreendia a minha posição, mas que também ele desconhecia que iriam outras pessoas no avião, mas que agora já nada se podia fazer.
Em 1981, encontro-me com Victor Pereira, na altura agente da Polícia Judiciaria, no restaurante Galeto, em Lisboa.
Conto a Victor Pereira que alguns dos atentados estão atribuidos às Brigadas Revolucionárias, relacionados com a colocação de bombas, foram porém efectuadas pelo José Esteves, como foram os casos dos atentados à bomba na Embaixada de Angola, de Cuba (esta última com conhecimento de Ramiro Moreira), na casa de Torres Couto, na casa do prof. Diogo Freitas do Amaral, na casa do Eng. Lopes Cardoso, e na casa de Vasco Montez, a pedido deste, junto ao Jumbo em Cascais, para obter "sensacionalismo" á época, tendo José Esteves espalhado panfletos iguais aos da FP25.
Não falei então com Victor Pereira Com camarate.
Tomei conhecimento no entanto que Victor Pereira, no dia 4 de Dezembro de 1980, tendo ido nessa noite ao Aeroporto da Portela, como agente da PJ, encontrou a mala que era transportada pelo Eng. Adelino Amaro da Costa.
Nessa mala estavam documentos referentes ao tráfico de armas e de pessoas envolvidas com o Fundo de Defesa do Ultramar.
Salvo erro, Victor Pereira entregou essa mala ao inspector da PJ Pedro Amaral, que por sua vez a entregou na PJ.
Disse-me então Victor Pereira que essa mala, de maior importância no caso de Camarate, pelas informações que continha, e que podiam explicar os motivos e as pessoas por detrás deste atentado, nunca mais voltou a aparecer.
Esta informação foi-me transmitida por Victor Pereira, quando esteve preso comigo na prisão de Sintra, em 1986.
Não referi então a Victor Pereira que, como descrevo a seguir, eu tinha já tido contacto com essa mala, em finais de 1982, pelo facto de trabalhar com os serviços secretos na Embaixada dos EUA.
Também em 1981, uns meses depois do atentado, eu e o José Esteves fomos ter com o Major Lencastre Bernardo, na Polícia Judiciária, na Rua Gomes Freire.
Com efeito, tanto o José Esteves como eu, andávamos com medo do que nos podia suceder por cusa do nosso envolvimento no atentado de Camarate, e queriamos saber o que se passava com a nossa protecção por causa de Camarate.
Eu não participo na reunião, fico à porta.
Contudo José Esteves diz-me depois que nessa conversa Lencastre Bernardo lhe referiu que, numa anterior conversa com Francisco Pinto Balsemão, este lhe havia dito ter tido conhecimento prévio do atentado de Camarate, pois em Outubro de 1980, Kissinger o informou de que essa operação ia ocorrer.
Disse-lhe também que ele próprio tinha tido conhecimento prévio do atentado de Camarate.
Disse-lhe ainda que podíamos estar sossegados quanto a Camarate, pois não ia haver problemas connosco, pois a investigação deste caso ia morrer sem consequências.
*** A este respeito gostaria de acrescentar que numa reunião que tive, a sós, em 1986, com Lencastre Bernardo, num restaurante ao pé do ediflcio da PJ na Rua Gomes Freire, ele garantiu-me que Pinto Balsemão estava a par do que se ia passar em 4 de Dezembro.***
No restaurante Fouchet's, em Paris, Kissinger tinha-me dito, “por alto”, que o futuro Primeiro Ministro de Portugal seria Pinto Balsemão.
É importante referir que tanto Henry Kissinger como Pinto Balsemão eram já, em 1980, membros destacados do grupo Bilderberg, sendo certo que estas duas pessoas levavam convidados às reuniões anuais desta organização.
Deste modo, aquando da conversa com Lencastre Bernardo, em 1986, relacionei o que ele me disse sobre Pinto Balsemão, com o que tinha ouvido em Paris, em l980.
Tive também esta informação, mais tarde, em 1993, numa conversa que tive com William Hasselberg, em Lisboa,quando este me confirmou de que Pinto Balsemão estava a par de tudo.
Em finais de 1982, pelas informações que vou obtendo na Embaixada dos EUA, em Lisboa, verifico que se fala de nomes concretos de personalidades americanas como tendo estado envolvidas em tráfico de armas que passava por Portugal.
Pergunto então a William Hasselberg como sabem destes nomes. Ao fim de muitas insistências minhas, William Hasselberg acaba por me dizer que a Pj entregou, na embaixada dos EUA, uma mala com os documentos transportados por Adelino Amaro da Costa, em 4 de Dezembro de 1980, e que ficou junto aos destroços do avião, embora não me tenha dito quem foi a pessoa da PJ que entregou esses documentos.
Peço então a William Hasselberg que me deixe consultar essa mala, uma vez que faço também parte da equipa da CIA em Portugal.
Ele aceita, e pude assim consultar os documentos aí existentes. que consistiam em cerca de 200 páginas.
Pude assim consultar este Dossier durante cerca de uma semana, tendo-o lido várias vezes, e resumido, à mão, as principais partes, uma vez que não tinha como fotografá-lo ou copiá-lo.
Vejo então, que apesar do desastre do avião, e da pasta de Avelino Amaro da Costa ter ficado queimada, e ter sido substituida por outra, os documentos estavam intactos.
Estes documentos continham uma lista de compra de armas, que incluia nomeadamente RPG-7, RPG-27, G3, lança granadas, dilagramas, munições, granadas, minas, rádios, explosivos de plástico, fardas, kalashiskovs AK-47 e obuses.
Referia-se também nesses documentos que para se iludir as pistas, as vendas ilegais de armas eram feitas através de empresas de fachada, com os caixotes a referir que a carga se tratava de equipamentos técnicos, e peças sobresselentes para maquinas agrículas e para a construção civil.
Esta forma de transportar armas foi-me confirmada várias vezes por Oliver North, no decorrer da década de 80, até 1988, e quando estive em Ilopango, em El Salvador, também na década de 80, verifiquei que era verdade.
Nestes documentos lembro-me de ver que algumas armas vinham da empresa portuguesa Braço de Prata, bem como referências de vendas de armas de Portugal e de paises de Leste, como a Polónia e a Bulgária, com destino para a Nicarágua, Irão, El Salvador, Colombia, Panamá, bem como para alguns países Africanos que estavam em guerra, como Angola, ANC da África do Sul, Nigéria, Mali, Zimbawe, Quénia, Somália, Líbia, etc.
Está também claramente referido nesses documentos que a venda de armas é feita atraves da empresa criada em Portugal chamada "Supermarket" (que operava através da empresa mãe "Black - Eagle").
Nos referidos documentos ví também que as vendas de armas eram legais através de empresas portuguesas, mas também havia vendas de armas ilegais feitas por empresas de fachada, com a lavagem de dinheiro em bancos suíços e "off-shores" em nome dos detentores das contas, tanto pessoas civis como militares.
As vendas ilegais de armas ocorriam por várias razões, nomeadamente:
*Em primeiro lugar muitos dos paises de destino, tinham oficialmente sanções e embargos de armas.
* Em segundo lugar os EUA não queriam oficialmente apoiar ou vender armas a certos países, nomeadamente aos contra da Nicarágua, ou ao Irão e ao Iraque, a quem vendiam armas ao mesmo tempo, e sem conhecimento de ambos.
* Em terceiro lugar a venda de armas ilegal é a mais rentável e foge aos impostos.
* Em quarto lugar a venda de armas ilegal permite o branqueamento de capitais, que depois podiam ser aproveitados para outros fins.
Entre os nomes que vi referidos nestes documentos figuravam:
- José Avelino Avelar
- Coronel Vinhas
- General Diogo Neto
- Major Canto e Castro
- Empresário Zoio
- General Pezarat Correia
- General Franco Charais
- General Costa Gomes
- Major Lencastre Bernardo
- Coronel Robocho Vaz
- Francisco Pinto Balsemão
Francisco Balsemão e Lencastre Bernardo eram referidos como elementos de ligação ao grupo Bildeberg e a Henry Kissinger, Francisco Balsemão pertence também à loja maçónica "Pilgrim", que é anglo-saxónica, e dependente do grupo Bildeberg.
Lencastre Bernardo tinha também assinalado a sua ligação a alguns serviços de inteligência, visto ele ser, nos anos 80, o coordenador na PJ e na Polícia Judiciária Militar.
Entre as empresas Portuguesas que realizavam as vendas de armas atrás referidas, entre os anos 1974 e 1980, estavam referidas neste Dossier:
- Fundição de Oeiras (morteiros, obuses e granadas)
- Cometna (engenhos explosivos e bombas)
- OGMA (Oficinas Gerais Militares de Fardamento e OGFE (Oficinas de Fardamento do Exercito)
- Browning Viana S.A.
- A. Paukner Lda, que existe desde 1966
- Explosivos da trafaria
- SPEL (Explosivos)
- INDEP (armamento ligeiro e monições)
- Montagrex Lda, que actuava desde 1977, com Canto e Castro e António José Avelar.
Só foi contudo oficialmente constituida em 1984, deixando, nessa altura, Canto e Castro de fora, para não o comprometer com a operação de Camarate.
A Montagrex Lda operava no Campo Pequeno, e era liderada por António Avelar que era o braço direito de Canto e Castro e também sócio dessa empresa.
O escritório dessa empresa no Campo Pequeno é um autentico “bunker", com portas blindadas, sensores, alarmes, códigos nas portas, etc.
Canto e Castro e António Avelar são também sócios da empresa inglesa BAE - Systems, sediada no Reino Unido.
Esta empresa vende sistemas de defesa, artilharia, mísseis, munições, armas submarinas, minas e sobretudo sistemas de defesa anti-mísseis para barcos.
Todos estes negócios eram feitos, na sua maior parte, por ajuste directo, através de brokers - intermediarios, que recebiam as suas comissões, pagas por oficiais do Exército, Marinha, Aeronáutica, etc."
Continua...

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